domingo, 11 de outubro de 2009

Pernil de carneiro torrado, erva dos sonhos e canja de galinha não fazem mal a ninguém.

“O que conta é o que se faz, não o que se intenciona fazer”
Picasso
Quatros pratos conversavam, brancamente, sobre conteúdos com que os enchiam, com que os esvaziavam.Gostavam de serem fundos, não rasos. Sentindo, assim, uma colher qualquer, raspando sua bunda de louça-louca, soltando sons esganiçados. Só não aceitavam que viessem misturando “secos com molhados”. Porque sopa é para os fundos e sólidos para os rasos. E a todo prato que se preza, do chinfrim ao decorado,devem ser apresentados alimentos quentes, frios ou requentados, um modo de saber serem utilitários. Um em cada lado do quadrado mantinham-se ansiosos, com o próximo café, almoço, jantar, ou demais convidados. Ah, e quando no centro da mesa, potes eram colocados; grito-ralado suado e cansado, erva-sonho seca e macerada, sabiam; o manjar era prenunciado. E sentiam orgasmo, não com a promessa do membro-braço retirando a concha do caldeirão (porque este poderia conter qualquer coisa), mas com o que lhes era derramado por cima. O prazer do tato, do calor, mesmo sendo o de um ralo caldo.

Um comentário:

Laura Fuentes disse...

Ata que é um texto em si e, ao contrário da canja, ele é farto.