terça-feira, 13 de outubro de 2009

Cidadã

Em pretensa poesia,
amparada nas quinas,
vou trançando colunas,
transbordando elogios
a esses homens encontrados
na esquina de algum desespero,
agarrados pelos pentelhos
e por um espasmo do decote.

Com braços gigantes,
fazendo ninho, vão engolindo
cada gomo do desejo
servido em bandeja plástica,
rasa e colorida.

São como estar frente ao mar,
frente a Deus.

E diante da imensidão
do grande guardador de rebanhos
o encantamento procria
levando ao paraíso a ovelhinha,
crente em sua pequenez disforme.

O resgate tem desfecho esperado:
cárcere do corpo, cárcere da alma.

E depois do enclausuramento
nada mais sublime
do que negar carne seca e cachaça.
Somente absinto em doses homeopáticas
retendo a essência de sua cara
na cara de quem já não a tem.

Sexista, machista, nunca consegue parar.
Tendo o resgate na tara,
sai à caça de outra oferenda.
Porque de prenda e falsas medalhas
vive o homem da esquina. O Canalha.

domingo, 11 de outubro de 2009

Ata e não desata.


Lá fora um frio de cortar carne e a mãe dando comida às crias envoltas em concreto. Metamorfoseadas em natureza urbana. Resistência de anos setenta, oitenta. Fumaça. Lá dentro persistentes, eles, continuam insistindo em ser gente. Não mais festas caseiras, não mais bares e pitadas. Psiu! E eles não se calam, não se fecham em telas de cristal, líquidas e planas. O sistema dentro do sistema, que não é mais sistema. É a louca. É a letargia por medo da bala. Não mais bananas, para símios disfarçados de humanos. Chega. É o menino e sua história. É o menino e seus devaneios futuristas. E as meninas alimentadas, de quê? São elas a contar as contas do futuro? Alguém diz Hitler? O alemão duvidoso penetra e é devorado. É a dor da separação É a crueza da história.

Pernil de carneiro torrado, erva dos sonhos e canja de galinha não fazem mal a ninguém.

“O que conta é o que se faz, não o que se intenciona fazer”
Picasso
Quatros pratos conversavam, brancamente, sobre conteúdos com que os enchiam, com que os esvaziavam.Gostavam de serem fundos, não rasos. Sentindo, assim, uma colher qualquer, raspando sua bunda de louça-louca, soltando sons esganiçados. Só não aceitavam que viessem misturando “secos com molhados”. Porque sopa é para os fundos e sólidos para os rasos. E a todo prato que se preza, do chinfrim ao decorado,devem ser apresentados alimentos quentes, frios ou requentados, um modo de saber serem utilitários. Um em cada lado do quadrado mantinham-se ansiosos, com o próximo café, almoço, jantar, ou demais convidados. Ah, e quando no centro da mesa, potes eram colocados; grito-ralado suado e cansado, erva-sonho seca e macerada, sabiam; o manjar era prenunciado. E sentiam orgasmo, não com a promessa do membro-braço retirando a concha do caldeirão (porque este poderia conter qualquer coisa), mas com o que lhes era derramado por cima. O prazer do tato, do calor, mesmo sendo o de um ralo caldo.